E finalmente chegou o dia quinhentos! Quem diria?! E como foi que eu passei esse dia tão importante para mim? Passei com raiva, aflito e desesperançoso. Calma, eu explico. Há uma série de precedentes envolvidos aqui, vamos a todos os pormenores. Primeiro que eu achei que o dia quinhentos cairia numa segunda-feira, só me dei conta que seriam quinhentos dias escrevendo no dia anterior, ontem, mas eu já tinha marcado um ensaio aqui em casa com a banda e não podia voltar atrás. Tudo bem, pensei, ainda podia dar certo. Mas não foi bem assim que aconteceu.

Primeiro que marquei um horário de chegada e saída pros amigos, avisei que era o meu dia 500 de escrita, o que não surtiu nenhum efeito, já que isso não é importante para ninguém além de mim. Resultado: saíram depois das oito da noite e deixaram uma zona gigantesca para eu arrumar, terminei de organizar as coisas era quase dez, só então eu sentei para escrever o quanto eu gostaria (que não chegou nem perto do pretendido). Mas o dia também serviu para eu reafirmar algumas posições quanto ao significado da escrita para minha vida. Algo que, ao que parece, só faz sentido no meu pensamento. Acho que dou importância demais para o ato de escrever e até consigo perceber que posso estar errado de muitas formas, mas não acredito que esteja de todo errado. Escrever É a coisa mais importante para mim. Algo que eu percebi há algum tempo e que foi reforçado hoje.

Vou abordar os números de uma vez para não esquecer o que eu produzi. Além das tradicionais três páginas à mão que compõe o meu diário (o primeiro diário que escrevo com sentido literal, pois estou escrevendo realmente todos os dias), eu escrevi um miniconto com 266 palavras, um verso com 36 palavras, mais uma parte do conto que estou trabalhando com 837 palavras e um fluxo com 2.764 palavras. A intenção era chegar a cinco mil palavras. No miniconto eu criei uma história sobre a perversidade masculina aplicada a um mundo distópico (que deveria ser ideal) onde as mulheres governam e exigem a castração de todos os homens. Eu diria que escrevi um texto “reparador”. Gostei muito do resultado.

Um novo parágrafo só para falar do fluxo: nas ideias que eu refleti surgiu o assunto medo. O eterno medo das coisas, sejam físicas, mentais ou ideológicas. Percebi que estou evitando um caminho certo para a profissão de escritor apenas por receio. Estou perdendo foco no que eu deveria estar fazendo apenas por tolice minha. Convenhamos, foram 500 dias escrevendo, há quinhentos dias eu estou decidido a me dedicar à Literatura e não pretendo voltar atrás nem desperdiçar todo esse tempo investido. O mais correto a se fazer é dar vazão a esse sentimento incutido em mim, seguir adiante sem temer o inesperado. Estou cansado de viver da arte e ver o quanto ela é desvalorizada e menosprezada por aqueles que hipocritamente a consomem. O terrível disso tudo é ainda ter esse tipo de pensamento, de chegar perto de desistir tantas e tantas vezes, mesmo estando completamente entregue ao ato de escrever. Espero e conto comigo para que eu nunca desista desse objetivo. O que gosto de sabiamente chamar de: propósito.

Outra questão levantada nos meus escritos é sobre a solidão do ato de escrever que às vezes se mescla a um egoísmo profundo. Gosto de pensar no coletivo, sou a favor do coletivo, mas me acho egoísta demais quando o assunto é preferência. Se eu pudesse escolher, escolheria livro, escrita e bichos, não pessoas. Chega a ser hipócrita da minha parte, já que a profissão solitária de escrever só é possível se pessoas lerem o que foi escrito. Eu sei, contraditório, mas não consigo pensar em outra forma de produzir textos e elaborar ideias se não for por mim mesmo, num processo egóico de solidão. Sempre fui caseiro, sempre detestei multidões, não vejo melhor forma de compor textos do que fazendo isso. Óbvio que eu perco muito do mundo lá fora, que é uma fonte de ideias e aprendizado, mas já viu o suficiente do mundo para preferir o isolamento. Estou sendo um cuzão falando isso, mas é como eu me sinto.

E já falei (escrevi) demais, essa mania prolixa de quem tem muito a dizer, mas opta por escrever. Amanhã começa a outra metade do caminho para chegar aos mil dias de escrita. Espero que nesses próximos quinhentos dias eu já tenha publicado alguns livros, já tenha sido lido por algumas pessoas, e que essas entradas nesse diário de escrita tenham também alguma serventia. Sei que estou fazendo a minha parte, sei que estou avançando, mesmo que lentamente, e sei que vou chegar a algum lugar. Independendo do resultado, esse foi o caminho que escolhi, a melhor prova disso é a continuidade dessa contagem, cada unidade a mais é um dia de vitória e sou obrigado a sentir orgulho disso, mesmo que sozinho. Até o próximo dia.

Você também pode gostar:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *