Se me roubo o tempo é porque não o tenho para dar. Assim me vejo sempre, desprovido de tempo o bastante para perceber que o tinha de sobra. Escrevi cerca de mil e quinhentas palavras, reflexões tardias do mesmo desespero, do mesmo escritor ansioso por mais tempo. Não sei lidar com a passagem do tempo, mas sei reclamar a falta do tempo que perdi. Foi assim o meu dia, foi este o meu fim. Na lápide quero escrito: usou o tempo que soube usar. Minto, quero ser cremado, nada de lápides. Se quiserem visitar-me em dia de morte, que leiam meus escritos. Li mais de Pessoa e Pessoa continua a ludibriar-me e encantar-me o pensamento, sinto que ele sofria do mesmo mal que hoje sinto. Entendo-o perfeitamente, compartilhamos o tédio e a desalegria de viver com pensamentos tortos. Foi tarde quando acabei o que mal havia começado, mas foi assim mesmo, como quase sempre, como há de ser para os cativos das palavras. Findo a entrada de hoje em lamento, o mesmo lamentar de todos os dias, mas repito a despedida, nos lemos em outras palavras.

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