Antes de mais nada, estou escrevendo a entrada do dia 29 no dia 30. Achei que faria tudo bonitinho ontem, mas acabei perdendo a medida das coisas. Tive um dia estressante, arregaçado, triste e estressante. Não sei o que me aconteceu, mas sei que passei o dia extremamente irritado, meu descompasso foi tão grande que até me rendeu dores abdominais e consequências intestinais.
Ontem foi um dia muito pesado para mim, um dia que costumava passar desapercebido nos anos anteriores. Ontem, dia 29 de junho, foi o dia do aniversário do meu falecido pai e, pela primeira vez, me dei conta de porque eu esquecia essa data, acho que eu precisava me esquecer, não por problemas com ele, mas pela falta mesmo que ele me faz. Não sei, realmente não sei. Sei que só parei de me sentir irritado depois que, com muito esforço, escrevi meus textos dedicados a ele. Comecei por um poema que estava gritando na minha cabeça, depois um miniconto ficcional com os sentimentos que me assolavam naquele instante. A ansiedade que eu estava sentindo era tão grande que depois que escrevi os textos eu não queria mais escrever, larguei o teclado, peguei o livro e li até dormir todo torto no sofá. Em algum ponto da madruga eu me levei sonolento e congelado até a cama. Eu acredito que meu péssimo dia tenha sido uma soma de muitos fatores, de muitas preocupações, mas também de saudade.
Entretanto, lá no começo do dia de ontem, as coisas estavam melhores. Foi quando eu liguei para parabenizar uma amiga de longa data, da época de faculdade, que faz aniversário no mesmo dia que meu velho. Ela sabe, já disse isso tantas vezes, só decorei o aniversário dela por coincidir com o do meu pai. E, por conta desse meu esforço de perder a data acabei deixando de parabenizá-la diversas vezes. Sempre me lembrando alguns dias depois. Mas todo esse parágrafo é para fazer uma espécie de lembrança dessa amizade, um agradecimento, uma menção. Nossa amizade foi entrecortada por muitos revezes, mas também cumplicidade. Éramos completamente diferentes, mas “graças a Deus”, mudamos. E hoje, além das muitas conversas do passado, temos pontos distintos em comum, somos antifascistas, a favor das pautas identitárias, lutamos contra o machismo, a misoginia, a homofobia, o racismo e tantas outras formas de preconceitos. Ela e eu somos de esquerda, a favor da prisão do genocida e, curiosamente, depois de tantos anos de amizade, descobri que ela é também uma cética. Somos ateus, não acreditamos em coisas místicas e partilhamos do desprezo aos falsos cristãos, sim, aqueles mesmos, que enchem a boca para falar de religião, mas só sabem julgar e atacar, aqueles que não praticam o que pregam. Já perdi inúmeras amizades assim, de gente que se acha melhor porque “tem Cristo no coração”. Ela e eu temos muito mais Cristo no coração do que esse bando de fanáticos armamentistas, como ateus somos muito mais cristãos do que todos esses hipócritas. Agora um novo parágrafo para completar a história:
Dami, sei que você também se importa com nossa amizade e, por mais distantes que estejamos, ainda continuamos conectados a um dígito, mas, além disso e muito mais profundamente, continuamos conectados contra os absurdos do mundo. Que seus dias sejam mais saudáveis e que os horrores do mundo nunca a derrubem. Parabéns pelo seu dia e obrigado pela amizade. Estamos juntos nesses pensamentos.
Então é isso, outro dia atípico de trabalho, mas mais um dia superado. Sigamos com as palavras lidas e escritas da melhor forma que for possível. Até logo mais.