Olha eu aqui, no meu centésimo dia de escrita consecutivo. Se eu não sou um escritor profissional por não ter nada publicado, ao menos sou um disciplinado aprendiz, que persiste na árdua tarefa de continuar treinando e me dedicando ao ofício. Gostaria de me dar os parabéns por esse feito único de minha vida. Acredito piamente que é a primeira vez que eu me dedico tanto a uma causa. Já usei muito tempo da vida praticando coisas, mas nunca por tanto tempo e com tanto foco.
Tudo começou no dia primeiro de Maio, quando eu decidi que queria escrever um pouco todos os dias. Fiz esse desafio comigo mesmo, a princípio, sem um mínimo de palavras e despretensiosamente, eu compartilhava com os amigos do grupo Ficcionados. Depois, percebendo que eles se sentiam cobrados e não motivados, parei de enviar meus relatórios para eles e passei a anotar para mim mesmo. Aqui, no meu site, eu comecei a fazer esse relatório diário, a partir do décimo terceiro dia, salvo me engano. Mas estou aqui, cem dias depois de uma ideia, uma necessidade, uma vontade, uma dedicação. Cem dias que, para mim, é um marco do meu viver.
É um sentimento de orgulho pelo feito, mas de receio por falhar um dia. Parece que me cobro demais, mas eu percebi que eu me incomodo demais se não estiver escrevendo. Ficou como algo natural no meu dia-a-dia. Natural porque eu me sinto ótimo criando e anotando ideias. Inventar histórias e elaborar enredos, terminar contos e versos. Imaginar sequências e narrar as minhas ideias em longos e intermináveis fluxos. Tudo isso me dá muito prazer. É tudo muito motivador. Acho que conseguirei permanecer por muito tempo nesse mesmo desafio, assim desejo.
Nesse tempo todo, quase quatro meses passados, eu já escrevi pouco, eu já escrevi muito, eu já escrevi bem cedo, eu já escrevi depois da meia noite, eu já escrevi em dias péssimos e eu já escrevi em dias bons. Foram muitos sentimentos, muitas emoções, muitas dores (físicas e emocionais), muitas lágrimas. Eu escrevi quando meus bichos foram internados, escrevi quando meu amigo e companheiro gato Smeagle morreu. Escrevi quando desci correndo para internar meu outro gato, o Minhoca. Escrevi quando o Astro-Boy teve um derrame, quando ele foi internado, quando ele voltou, quando ele quase morreu de novo. Eu escrevo agora, enquanto ele dorme aqui no seu cantinho macio, parando de vez em sempre para poder dar remédio, dar comida, leva-lo para se aliviar, ou medir sua glicemia. Eu continuo aqui, escrevendo. Tem dia que começo a escrever logo cedo e faço isso o dia todo. Tem dia que escrevo bem tarde, com pressa de acabar. Tem dia que escrevo muito triste, com raiva, irritado, estressado, mal-humorado, e legalzinho também.
Teve dias que eu anotei só o número de palavras nesse meu diário de escrita sem quase nada a dizer. Teve dias que eu fiz longos devaneios antes de falar o volume de minha produção. Teve dias que eu só queria ir dormir, e tentava sempre ser o mais sucinto no assunto em questão. Mas, geralmente, eu venho aqui, divago um pouco, penso e conduzo uma conversa comigo mesmo, me incentivo e me motivo a continuar escrevendo. Eu leio e releio o que eu escrevo nesse diário, mas certeza que alguns erros passaram, que algumas ideias ficaram ininteligíveis, que faltaram informações, e que a produção não foi tão importante. Sei que, tirando por baixo, uma média de mil palavras diárias, eu já escrevi cem mil palavras, um romance inteiro de quase mil páginas. Uma produção incrível, eu preciso me dar esse elogio.
Nesse tempo eu escrevi mais de uma dezena de contos. Uns trinta versos. Duas crônicas. Dezesseis capítulos do meu livro revisados e reescritos. Uma dúzia de reflexões, de minicontos, e de outros escritos. Mais de vinte resumos de futuras estórias que irei contar. E, com o fluxo de hoje, foram exatamente cinquenta textos de fluxos de consciência. Se em tudo isso que eu escrevi existe algo que presta, eu deixo a cargo de quem lê, mas não poderão dizer que eu não sou prolífero. Pedro, o cara de muitas palavras escondidas. Quem sabe um dia esses muitos textos que eu escrevi não irão ganhar o mundo? Sei que eu escrevo para ser lido. Sei que eu continuo escrevendo na crença de que um dia serei publicado. A minha parte eu estou fazendo todos os dias, brotando material dessa mente abarrotada de ideias.
Tudo o que eu disse aqui, nesse longo texto, talvez não faça muito sentido, mas é assim, são palavras carregadas de sentimentos. Um desses sentimentos, hoje, é de satisfação. Venci a mim mesmo. Conquistei essa marca. Ah! E para não perder o hábito, antes de encerrar:
Hoje eu escrevi um verso de 132 palavras. Depois eu escrevi um conto que ainda pretendo mexer, mas foram 812 palavras. Em seguida eu concluí o dia com mais um fluxo em 3066 palavras. Mais esse textão que estou encerrando aqui. Eu disse, sou prolífero.
Uma boa noite a mim mesmo, o mais fiel leitor do que eu escrevo. Que esses cem dias seja apenas o começo de uma vida ininterrupta de escritos. Volto para comemorar de cem em cem. No dia mil terá bolo! Até amanhã, o dia cento e um!