MIL DIAS ESCREVENDO ININTERRUPTAMENTE! Palmas pra mim, eu realmente mereço. Cheguei a duvidar que seria possível, mas foi e aqui estou para dizer que sim, é possível trabalhar em algo por mil dias consecutivos, mesmo com tantas emergências, desgraças e problemas, eu consegui chegar até aqui (Chupa!). Antes de falar sobre isso, preciso dizer (me lembrar) que naquele primeiro dia de escrita, quando disse a mim mesmo que havia encontrado meu propósito de vida e comecei a escrever com a ideia fixa de nunca mais parar, eu achei que não duraria nem sequer até o dia cem. Eu cheguei a comemorar o dia cinquenta como se fosse algo grandioso, eu realmente estava feliz, mas quando cheguei ao centésimo dia, fiquei maravilhado, me achei muito foda. Eu sabia que demoraria muito tempo para chegar ao dia mil, mas a cada centena eu tinha mais e mais certeza que seria possível. Acabei me esquecendo até de alguns dias redondos de comemoração, não lembro qual deles eu pulei, mas ao menos uma das centenas passou batida. Entretanto, o dia mil precisaria de uma atenção especial e, desde a virada do ano, até mesmo antes, eu vinha planejando comemorar neste dia. Cheguei a contar os dias para saber quando seria a data. Circulei o dia no calendário e fiz muitos planos. Não era apenas mais um dia, era O dia, O Grande Dia (com todas as maiúsculas possíveis). Eu não passaria por outros dias mil, afinal, mil dias de alguma coisa só se passa uma vez, e precisava dar significado a ele e, ao mesmo tempo, modificar algumas coisas importantes.

É bom lembrar que a ideia surgiu depois de muito sofrimento e perdas durante a pandemia. Eu precisava encontrar sentido no isolamento da minha vida e escrever parecia a coisa mais acessível que eu podia fazer naquele momento. Eu tinha perdido alguns bichos de formas dolorosas, tinha passado por várias internações da minha mãe, tinha sofrido alguns problemas de saúde e o país estava entregue nas mãos dos malditos neofascistas. Escrever era sempre um alento, mas não era ainda um contrato firmado, eu precisava prometer, jurar, me entregar à causa e, antes de selar o acordo comigo mesmo, ponderei todas as dificuldades que encontraria. Naqueles tempos, eu era ingênuo e mal sabia o que estava por vir, nem em meus piores pesadelos eu podia adivinhar todos os reveses que encontraria. Mas a cada dificuldade eu me afundava ainda mais na escrita. A cada perda, cada sofrimento, cada choro, cada dor física e mental, eu me entregava às palavras. Não consigo enumerar todas as tragédias e tristezas, mas sei que todas elas foram narradas em algum dos milhares de textos que redigi. Tenho mais do que certeza que ao menos um milhão de palavras eu já escrevi nesses mil dias. Nem todas terão bom uso, mas todas contam uma parte da minha história, um pensamento ou um segredo. Foram quase três anos neste mundo ficcional diário. Três anos de dedicação e muita insistência. São mil dias, porra! Mas, então, parei para refletir que nunca em toda minha vida havia feito algo por tanto tempo. Confesso que estou me sentindo incrível, uma comemoração anônima e isolada, eu comigo mesmo. Como sempre foi e continuará por muito tempo. São mil dias de solidão, essa solidão implacável e interminável.

Eu, as palavras e mais nada. Meus bichos se foram, minha mãe quase se foi algumas vezes, os relacionamentos desmoronaram, a vida mudou, o maldito inominável foi retirado do poder. Faltam cair muitas coisas, o capitalismo e a desigualdade que ele gera, por exemplo. Mas existem coisas que eu não gostaria que acabassem, COISAS, não pessoas, aqueles que amo é óbvio que desejo que vivam por muitos anos. Entre as coisas que não desejo o fim estão a música, a leitura e meus textos. Um dia tudo acaba, até o amor, mas pretendo garantir que meus dias de escrita não sejam terminados enquanto puder digitar e manuscrever páginas. O meu plano de comemoração para hoje incluía dez mil palavras digitadas e dez páginas manuscritas. Cumpri todas elas com muito orgulho, não pela quantidade, mas para continuar provando a mim mesmo que sou capaz de fazer coisas extremas, e gastei o dia inteiro digitando letra a letra para ter certeza disso.

Meus braços doem, minhas costas também. O que trouxe a reflexão sobre a saúde. É preciso saúde para continuar lendo, escrevendo, aprendendo e criando. E por causa disso, por causa de todas as chateações que evitei até aqui, fiz um novo trato comigo. Algo que irá aliviar a minha carga emocional, essa obsessão pela escrita, pelo fazer das coisas. A partir do dia mil e um (amanhã), trabalharei o essencial para a continuidade do meu projeto literário. Revisarei e reescreverei textos antigos, continuarei criando, sim, é claro que continuarei, não restam dúvidas quanto a isso, mas não perderei tempo postando entradas sobre meus dias de escrita, não gastarei horas consolando-me com palavras vazias, fazendo planos que só digito e nunca entro em ação para realizar. Quero colher os frutos de tanto tempo de trabalho. Quero publicações, ganhar concursos, continuar criando e aperfeiçoando a escrita e sua forma. Meus fluxos de pensamento são importantes, assim como as muitas páginas dos vários cadernos que preenchi, mas existem bons momentos para isso, os momentos propícios, sejam felizes ou sejam tristes (como na maioria das vezes o são). Não preciso refletir a vida todos os dias, afinal de contas, eu cansei de lamentar, cansei de reclamar tudo o que eu fiz ou deixei de fazer. Minhas compulsões aumentaram, meus impulsos estão em total descontrole, minha vida quase começou a ruir outra vez. Eu preciso de descanso. Eu preciso de outras coisas além das palavras. E preciso que as palavras tenha significado para mim. Para que sejam usadas dentro de um contexto, para que sirvam para gerar bons contos, romances, novelas, crônicas, ensaios, poesias e algumas poucas confissões. Não quero gastar palavras à toa, não quero fundir o meu cérebro com milhares e milhões de palavras.

A última média de palavras que fiz, já faz alguns meses, era cerca de duas mil e quinhentas palavras ao dia. houve épocas que escrevi mais ou menos. Mas a média se mantinha. Ou seja, depois de mil dias, posso assegurar que já escrevi mais de dois milhões de palavras. No Word, mil palavras são quase três páginas em Times New Roman, tamanho doze. Que fossem duas páginas apenas, mesmo assim, escrevi mil, dez mil, cem mil, um milhão ou mais de páginas. Sei que seria o bastante para reescrever “Em busca do tempo perdido” ou “Guerra e paz” (talvez ambos). Mas quantas dessas palavras seriam realmente aproveitadas? Imagino que nem metade. E é por isso que preciso mudar a minha forma de trabalho. É por isso que preciso gastar mais tempo reescrevendo minhas ideias, fazendo segundas e terceiras versões de cada coisa que já criei, revisando cada detalhe, transformando ideias em obras de arte. Só assim poderei buscar uma unidade e me sentir realmente um profissional, um escritor.

Essa entrada será a última por um tempo, mas será a última de uma sequência concreta de entradas. Chega de postar todos os dias. Quando tiver algo relevante a dizer, algo interessante para deixar escrito, eu posto com a contagem atualizada do dia em que estiver escrevendo, mas não quero mais tanta responsabilidade. O tipo de responsabilidade inútil. Se ao menos eu vivesse disso, se ganhasse para escrever, não me incomodaria nem um pouco em continuar cada um dos projetos, mas não, não tenho sustento com as palavras e frases (ainda) e é preciso abdicar dessa loucura. Não vou parar de escrever diariamente, como eu disse, eu preciso continuar provando a mim mesmo que posso ir cada vez mais longe, mas não há necessidade de mostrar. O objetivo do site era compartilhar minha produtividade e incentivar outras pessoas a escreverem e isso eu tenho certeza que nunca fiz. Para mim já foi o bastante por aqui. Quando publicar algo, quando tiver uma notícia importante para compartilhar, eu apareço, fora isso, pagarei domínio e hospedagem à toa, como parte da manutenção existencial dos meus sonhos. Bem, é isso. Mil dias completados com muito orgulho. Mais de dez mil palavras digitadas num único dia, é um novo recorde. Mais de dez páginas escritas à mão, também é um recorde. Eu me parabenizo por tudo isso, só eu sei cada tecla que apertei até aqui. Não é o fim, é apenas mais um começo. Nos lemos noutras palavras, pois outros mil dias também virão. Até.

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