Menos ainda que ontem, e não, menos não é mais nesse caso. Mafalda precisou de internação. Internei com ela o meu coração e o meu bolso. Não há um só dia de sossego e paz, sempre uma tragédia, sempre uma surpresa ruim. Cansado. Menos de mil e trezentas palavras escritas, nenhuma página de livro lida, nenhuma perspectiva de futuro. O calor acentua a dor, a dor aquece o âmago, faz suar, faz desejar que tudo se acabe, faz desistir e deixar acontecer. Nenhum plano de contingência me preparou para isso. Sigo firme e forte nas minhas duas melhores “qualidades”: procrastinar e reclamar. Como bom comunista diagnosticado que sou, culpo duas coisas: o TDAH e o capitalismo. E sendo humano, ainda falho em tentar acreditar que exista solução e continuo tomando doses cavalares de esperança, mesmo sabendo que ela vai morrer pouco antes de mim, enchendo o meu saco até o último dia. O que me consola é que assim como eu, morrerão também a esperança, o capitalismo e minhas reclamações. E se tivesse uma boa vida na saúde, nas finanças e no próprio existir, não estaria reclamando, certamente nem escrevendo. Até.
Diário de escrita